Fechei os olhos e as cores saturaram. Não era mais real o que eu via. O mundo racional deixava de fazer sentido e a noção do tempo se modificava e se acalmava, assim como as almas daquele lugar. O sol era a referência mais confiável para o tempo. Um mundo em que  desligar celulares e computadores nos leva a uma nova experiência de conexão: o carinho pelo próximo e por si mesmo, o reparar na brisa, o sentir e o assistir a um show, a tolerância com aquele que esbarra sem querer em você. Um mundo de sorrisos e cores.
A noite era eterna como as músicas e provocavam uma emoção intensa em cada um. Uma lisergia que surge da euforia de participar deste pequeno Woodstock. Shows de artistas consolidados ou de músicos em ascensão. Tudo com muita cor e sinceridade, tanto pelo público como por quem toca. Há também as músicas que rolam nos acampamentos, entre violeiros desafinados e artistas de qualidade: no fim, tanto faz, é só a vontade de expôr o que vem de dentro.
Amanhece quando volto à barraca. O colchão de ar vazio, as filas para tomar banho, a falta de cuidado de alguns com a natureza,  o calor do acampamento, até a chuva que caiu em um dos dias; enfim, as dificuldades e problemas não são capazes de ofuscar o sentimento maior que é preservado por todos. Faz a gente pensar e lembrar que ainda há muito o que conscientizar, mesmo naquele oásis. E a gente busca isso. Durante o dia, dormir na sombra de árvores, caminhar até a cachoeira, sentir a brisa do campo, equilibrar-se nas fitas de slackline, brincar de bola, tocar um som ou ver algum dos shows da tarde, além das oficinas em todas as áreas possíveis para um festival. Encontrar sorrisos entre as artes e o efêmero do momento. Não existe idade mínima – crianças e adultos se divertem com cores e fantasias, com pinturas e brilhos. Só vejo pessoas felizes.

O tempo passa e você percebe que é o último dia. Hora de desarmar a barraca, organizar as coisas e esperar o horário combinado com a van para ir embora. Os minutos são muito bem aproveitados, mas a impressão é que ainda temos muito o que fazer e que quatro dias não foram suficientes. Uma sociedade que, por um breve momento, surge a cada ano e mantém o amor em primeiro plano. Amigos e conhecidos em que o único contato é o Carnaval. O tempo acaba, mas não existe limites: existe amor. O respeito, a compreensão, a calma, a agitação, a felicidade e a emoção. Sentimentos compartilhados por todos aqueles que entendem esse festival como parte da própria vida. Que passam o ano esperando pelo momento em que a real conexão volte. Um Carnaval que isola você ao mesmo tempo que traz experiências que lhe são privadas pela vida moderna. Esse foi o meu Psicodália, e conto os dias para continuar a viver essa experiência a cada ano.